quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Fatores que influem no rendimento das culturas

Eng. Agr., Dr. Elmar Luiz Floss
Professor Emérito e Consultor do Agronegócio
Membro da Academia Passo-fundense de Letras
Instituto de Ciências Agronômicas Porfessor Elmar Luiz Floss - INCIA
E.mail: elmar@grupofloss.com

Os grandes cenários da Agronegócio acenam para a necessidade o aumento permanente da produtividade, da melhoria da qualidade do produto colhido, da rentabilidade, da competitividade num mundo globalizado e da sustentabilidade (econômica, social e ambiental).
O aumento da produtividade (total de biomassa seca produzida por unidade de área) ou do rendimento (quantidade de produto econômico colhido por unidade de área, ex. grãos), também conhecido como fotossíntese líquida, está na dependência de mais de 50 fatores. Cada fator influi individualmente com uma pequena parcela, que somados ao conjunto fazem com que os rendimentos continuem aumentando, para gerar o necessário aumento na rentabilidade da propriedade.
Depende da interação de fatores, relacionados com as características genéticas dos cultivares (potencial de rendimento, adaptabilidade a cada região edafo-climática, ciclo, estatura de plantas, morfologia,...), das condições ambientais (clima e solo) para expressão desse potencial, do manejo ou dos tratos culturais utilizados pelos produtores e de fatores internos, como o controle hormonal de todos os processos fisiológicos envolvidos com o desenvolvimento e a produção vegetal.
De forma genérica, o aumento do potencial de rendimento e da qualidade do produto colhido, depende de fatores promotores da produção e fatores mantenedores da produção. Os fatores promotores da produção são os mais importantes, e envolvem a adoção de tecnologias como a escolha do cultivar, da adequada implantação da cultura (época, profundidade, espaçamento e densidade de semeadura), da adubação e da correção correta do solo, da irrigação, da rotação de culturas, da utilização do sistema de semeadura direta, dentre outras. Os fatores mantenedores da produção, tem a função evitar as perdas do potencial de rendimento determinado pelos fatores promotores, como o controle adequado das moléstias, das pragas e das plantas daninhas. Saliente-se, que o principal fator para aumentar a eficiência no controle de moléstias é a rotação de culturas e o equilíbrio nutricional das plantas.
A genética chega na lavoura através das sementes, razão da importância da busca permanente de sementes dos novos cultivares que tenham efetivamente características diferenciais. Para conhecer melhor o potencial de rendimento e a adaptabilidade dos mesmos às condições de clima e solo de cada micro-região, é de fundamental importância participar de dias de campo e observar as áreas demonstrativas de novos cultivares.
O potencial genético somente se expressa caso haja condições ambientais adequadas, como luminosidade, disponibilidade de água, temperatura, aeração e permeabilidade do solo, pH em torno de 6 e disponibilidade de nutrientes. Estima-se que 65% do potencial de rendimento depende dos fatores climáticos. Como as condições climáticas são instáveis, há necessidade da adoção de estratégias que procuram minimizar esse risco, como a diversificação de culturas, diversificação de cultivares com diferentes ciclos em cada cultura e a diversificação em épocas de semeadura. Já, as condições de solo dependem das técnicas de manejo utilizados, melhorando suas condições físicas, químicas e biológicas. Um solo bem manejado é aquele em que há aumento progressivo do teor de matéria orgânica (seqüestro de carbono e nitrogênio). Essa matéria orgânica é o principal fator responsável pela melhoria das condições físicas (permeabilidade, aeração) e químicas (aumento da capacidade de troca de cátions, reciclagem de nutrientes) do solo. A principal é a maior retenção de água no solo, fundamental para minimizar os efeitos de estiagens de curta duração.
A semeadura direta é um sistema que somente se sustenta, trazendo todas as vantagens, como controle da erosão, aumento da infiltração de água, redução da variação da temperatura e evaporação, reciclagem de nutrientes, dentre outros, com o planejamento também da produção de palha, da ordem de 9 a 12 t por ha/ano.
Portanto, o desenvolvimento pleno de uma cultura depende do equilíbrio nutricional e equilíbrio hormonal. Os fatores ambientais são os principais responsáveis pela mudança hormonal, que por sua vez determinam a expressão genética. O equilíbrio nutricional se traduz por um estado nutricional equilibrado entre micro e macronutrientes, sem deficiência ou toxidez. Os hormônios vegetais são classificados em promotores e inibidores. A adequada condição da cultura é quando a concentração de hormônios promotores (giberelinas, auxinas e citocininas) é maior que a concentração de inibidores (etileno, abscisina e compostos fenólicos).

Cevada, malte e cerveja

Elmar Luiz Floss
Engenheiro Agrônomo e Licenciado em Ciências, Doutor em Agronomia, Professor Emérito de Passo Fundo e Consultor em Agronegócios
Membro da Academia Passo-fundense de Letras


A cevada-cervejeira (Hordeum vulgare var. distichum ) é um cereal de inverno cultivado em diversas regiões no mundo e destinada prioritariamente na elaboração de malte, usado na elaboração de cerveja e destilados. Também é utilizada na alimentação humana na forma de farinhas, flocos e bebida alternativa ao café. A cevada é o cereal de inverno mais exigente em fertilidade dos solos, para expressão de altos potenciais de rendimento e boa qualidade industrial de grãos.
A cevada é originária da região Asiática, na região da antiga Mesopotâmia, tendo sua domesticação ocorrida em época pré-histórica, no início da agricultura, há aproximadamente 7000 anos antes de Cristo. A grande expansão da cultura e o seu melhoramento genético, que permitiu a obtenção dos cultivares modernos de cevada hoje disponíveis, ocorreu na Europa e posteriormente nos Estados Unidos e Canadá. No Brasil, a cultura é relativamente recente, cuja expansão ocorreu somente a partir da metade do século 20 com a expansão das indústrias cervejeiras.
Trata-se de uma importante cultura alternativa em algumas regiões do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná, para inclusão no sistema de produção, especialmente, em sucessão a soja. Tradicionalmente, a cevada é cultivada em sistemas integrados de produção com as companhias cervejeiras, como a Ambev, geralmente em parceria com cooperativas de produção. Atualmente, a maior parte do malte utilizado na fabricação de cerveja, cujo consumo cresce significativamente a cada ano que passa no Brasil, é importado, especialmente da Argentina. Com a instalação da Maltaria da Ambev em Passo Fundo, com previsão de início de atividades a partir de 2011, abre-se uma perspectiva de aumento da área cultivada desse cereal na região. Isso representa uma ocupação econômica de parte dos solos que ficam ociosos no período de inverno, gerando renda, empregos diretos e indiretos, e, tributos na região produtora.
Quanto aos principais fatores de produção da cevada, há disponibilidade de cultivares, com altos potenciais de rendimento bem como com adequada qualidade para malteação. Ao longo dos anos, a pesquisa também desenvolveu tecnologias de manejo da cultura (tratos culturais), desde a semeadura até a colheita, objetivando, além de altos rendimentos e qualidade industrial dos grãos, o aumento da rentabilidade ao produtor. Em relação ao fator ambiental, a cevada-cervejeira deve ser cultivada somente em solos corrigidos e de alta fertilidade, através de semeadura direta, sobre resteva de soja, obrigatoriamente em rotação de culturas para minimizar os riscos sanitários. É tolerante ao frio, expressando seu potencial em anos com primaveras secas, de alta luminosidade e baixas temperaturas noturnas, mas, sensível ao excesso de chuva na maturação.
O grão de cevada destinado à malteação deve ter no máximo 12% de proteína, largura maior que 2,5cm e um poder germinativo mínimo de 95%. Isso por que, a malteação consiste numa pré-germinação do grão de cevada, para que o sistema enzimático converta o amido em maltose, que é o substrato utilizado pelos microrganismos de fermentação alcoólica, na indústria cervejeira. Aqui está a sensibilidade da cevada às condições de excesso de chuva na maturação, pois nesse caso ocorre uma redução no poder germinativo ou vigor dos grãos, tornando-os impróprios para malteação. No grão que não germina, não há a conversão do amido em maltose, portanto não serve com matéria prima na fabricação de cerveja. Nesse caso, seu destino é a alimentação animal, especialmente, na nutrição vacas leiteiras.